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O meu sexo não me fragiliza: algumas considerações sobre o feminismo



Simplesmente chega uma hora em que os mesmos discursos proferidos pelos nossos avós já não fazem mais sentido em nossas bocas, ou, no mundo atual, em nossos dedos, quando escrevemos. "Você não pode sair a essa hora na rua, é perigoso pra uma menina"; "você não acha que essa saia está muito curta pra sair a esse horário?"; "essa roupa está muito vulgar"; "olha lá, saiu daquele jeito, era óbvio que podia acontecer, tava praticamente pedindo".


Mulheres, em sua essência e estruturalmente, são diferentes dos homens. E não tem mistério, é só isso mesmo. Não é porque sou mulher que tenho que ser fragilizada ao lado de um homem. Que possivelmente, pelo meu gênero biológico, eu seja considerada "mulherzinha", ou qualquer outro termo pejorativo que menospreze a diferença feminina. Somos mulheres, fortes à nossa maneira de ser: formadoras de opinião, livres por lei, e em espírito e, quem sabe, fortes de corpo também. Aquele velho chalalá de que a mulher precisa ser protegida pelo homem, ou que precisa de suporte masculino está velho, decrépito, e se alguma mulher ainda aceita isso, é por puro comodismo. Queremos ainda ser amadas, um carinho no final do dia, um abraço de aconchego, mas não precisamos de proteção por fraqueza ou dependência emocional e física.

Ora, os direitos adquiridos por nós em toda a história de discriminação e inferioridade foram justamente naqueles momentos em que saímos do lugar-comum, do comodismo e da "asa" do homem. Diariamente nos libertamos das amarras da sociedade, e isso deveria ser considerado não uma fraqueza, mas uma bravura indômita de que sim, conseguimos, à nossa maneira, fazer a diferença por nós, mesmo que os discursos velhos ainda retornem, de tempos em tempos, e se veja um machismo ainda enraizado por aí.


O discurso real do feminismo do século XXI, e isso se percebe nas sutilezas das opiniões, não é querer ser mais ou melhor do que ninguém, e sim, igual. Não querer privilégios por sermos sexo frágil, só querer o respeito de poder sair de short na rua sem ter alguém falando um ai. É poder sair na rua às 22h sem medo de ser assaltada ou estuprada. É poder viver, de maneira igualitária, em um direito de ir e vir de qualquer cidadão, seja homem ou mulher.

Se você acha o feminismo uma besteira, isso se deve ao simples fato de que possivelmente, você ouviu um desses discursos:

"UZOMI TEM QUE MORRER"

"não queira roubar nosso espaço de fala, seu macho opressor. Feminismo é feito por feministas", para um homem que apoia e concorda com as opiniões do feminismo. "Odeio homem, se tem pau eu quero mais é que morra" "Tá discordando de mim omi? Seu machista opressor" “isso aí é opressão do patriarcado burguês, machista e falocrata”

E aí, dá-se todo o direito de se fazer isso, haja vista que esses comentários são discursos de ódio e intolerância disfarçados de opinião, além de serem os clichês que deslegitimam as moças que realmente fazem o movimento caminhar. Precisa haver um equilíbrio entre sua opinião, que pode estar certa ou não, e a opinião do outro. O seu gosto pessoal e o gosto do outro. Cansei de ver gente marcando outras pessoas para que essas pessoas humilhassem uma opinião diversa da delas. Está faltando uma noção real do que é feminismo e do que são mulheres histéricas que fazem qualquer propaganda, opinião ou marketing serem rechaçados por elas próprias.


Quer um exemplo? Mês passado uma churrascaria chamada Buffalo Grill, em Santa Cruz do Sul, estava oferecendo um desconto para as mulheres porque elas comem menos. De fato, NA MAIORIA DAS VEZES, as mulheres realmente comem menos e pagam a mesma coisa. E essa churrascaria teve uma chuva de comentários maldosos de mulheres que se diziam desrespeitadas, que elas tinham que pagar a mesma coisa que o homem. Bem, nunca vi nenhuma delas reclamar de desconto até aquele dia, porque quando é em balada, ninguém fala muita coisa, não é? Talvez foi o modo como o dono fez a promoção, mas, depois, eles simplesmente retiraram o anúncio e disseram que não se importava, afinal era mais dinheiro que entrava para eles (basicamente isso, em outras palavras). Teve algumas grosserias do responsável por comentar na página, afinal, quem é que gosta de ter seu estabelecimento atacado por pessoas que nem frequentam? E no fim, quem é que teve razão?

O fato é que o que deveríamos almejar, como mulheres, e como usuárias de internet que percebem, diariamente, as coisas saírem do controle, é que o feminismo seja encarado como ele realmente é, ou deveria ser: uma luta por direitos iguais, tanto para as mulheres que nascem mulheres como as mulheres que não nascem, mas em sua essência o são. Porque sim, elas sofrem preconceito duplo: de homens e das próprias mulheres, às quais deveriam encontrar um refúgio. Talvez seja por isso que tanta gente, inclusive mulheres, sejam contrao feminismo.


E aí, fica o pedido: Por mais feminismo e menos feMIMIMInismo, por favor.

Tatiana Trindade

Sagitariana, cozinheira, fotógrafa, empresária e de tudo um pouco. Tem 23 anos, mas ainda não sabe se casa ou compra uma bicicleta.

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